A construção da relação
Museu-Escola no Rio de Janeiro entre 1832 e o final dos anos de 1927.
Análise das formas de colaboração entre o Museu Nacional e as instituições da
educação formal
No 24°
Simpósio Nacional de História, em 2007, Luciana Kotptecke, Maria Margareth
Lopes e Marcelle Pereira apresentaram as modalidades da relação obervada entre
o Museu Nacional do Rio de Janeiro e as instituições de ensino formal, no
período entre 1832 e 1970. Tendo por base o acervo documental da instituição,
as autoras se debruçaram sobre os registros das atividades cotidianas do Museu
no referido período para identificar o processo envolvendo o museu e seus
públicos, “no âmbito das práticas correntes de educação, socialização e
produção de conhecimento” (p.2).
Criado em
1818, por Dom João VI, com a denominação de Museu Real, tinha por objetivo,
conforme a Portaria de sua criação, a promoção do progresso cultural e
econômico do país. Esse mesmo documento define acervo e regulamenta o seu uso,
estipulando horário de funcionamento e quem estava apto a frequentá-lo. Nesse
sentido, ao analisar o documento oficial, as autoras destacam apontamento
referente a quem era permitido o ingresso ao Museu. ”Ele define quem é o
visitante digno de entrar ‘pelos seus conhecimentos e qualidades’, sugerindo
ser aquele um espaço para os já educados, espaço para a sociabilidade e
desenvolvimento para os portadores da chave do conhecimento” (p. 3).
Ao descrever
os públicos desse Museu, em 1822, as autoras nos contam que poderia ser
visitado por estudiosos e viajantes, no entanto, nem todo o acervo estava
disponível a eles. Quanto ao público, as referências indicam professores
“responsáveis por disciplinas científicas de instituições de ensino superior.
Membros de sociedades científicas estrangeiras, naturalistas ou diplomatas em
visitas ao Brasil” (p.3). Também registram o uso das dependências pela Academia
Militar. Ainda nesse período, as práticas demonstrativas das aulas estão em
voga. Segundo as autoras,
No campo das ciências
naturais e do homem, o museu estimula novas práticas de pesquisa e visa ampliar
o entendimento e a adesão aos valores da racionalidade científica e ao uso de
novas tecnologias junto ao público leigo. Neste sentido, ele busca ampliar o
acesso a escolares, operários, agricultores, enfim, ao povo do Império e ganha
destaque o uso controlado pela ação pedagógica que caracteriza o público cativo em visita escolar. (KOPTCKE,
LOPES, PEREIRA, 2007, p. 4).
Após essa
breve descrição da constituição, usos e costumes do Museu Nacional, as autoras
passam a questionar a educação e museu e se esta integra um projeto disciplinar
ou libertador. Para responder a questão, elas vão buscar os conceitos que
norteiam a constituição dos museus e escola na primeira metade do século
20. Informam que diferentes setores da
sociedade defendem estender a educação obrigatória a todas as camadas sociais e
que essa proposição estava ancorada em um projeto republicano que “contribuiria
à preparação para a participação política, pois a educação das novas gerações
do povo poderia assegurar o repúdio a qualquer forma de tirania que ameaçasse a
democracia republicana” (p. 4).
Na sequencia,
discorrem sobre como se dá processo pedagógico na sociedade e trazem à baila autores,
a partir dos anos 70, dos campos da Sociologia e da pedagogia discursando sobre
o papel da escola. Para alguns, a escola é vista como “espaço de reprodução das
desigualdades sociais (...), por outros, como espaço potencialmente libertador
e, ainda, por outros como um espaço de interação entre atores hierarquizados
e/ou entre pares” (p.4). Na mesma linha, afirmam as autoras que o acesso ao
museu “pode representar um movimento tanto de inclusão quanto de segregação
social” (p.4).
Ainda nos
conceitos apresentados pelos campos da pedagogia e da sociologia, as autoras
destacam os estudos que mostram que a “morfologia e a organização dos museus
detêm um ‘currículo oculto’ com a função de reforçar em alguns visitantes o
sentimento de pertencimento e, em outros, o sentimento de exclusão” (p.5).
Apesar de todos os esforços até então, não resultou em significativa
popularização para a formação das futuras gerações.
Outro ponto
para análise é relativo às visitas em grupo escolar – visita cativa - As autoras dizem que possível inferir que, por
vezes, não cumprem, efetivamente, seu papel pedagógico, mas obtendo apenas
efeito disciplinar. Para esclarecer essa questão, as autoras registram alguns
episódios, ainda que incipientes, de uma possível colaboração entre o Museu e a
instrução elementar, por volta de 1839, como por exemplo, os registros de empréstimos
ao Colégio Pedro II e, pela documentação pesquisada, as autoras identificam
que:
Na medida em que a
escola primária passa a incorporar as práticas demonstrativas já em voga no
ensino secundário e superior, compartilhará o museu formas de acesso ao
conhecimento (a observação, a classificação, as experiências e análises de
laboratório). Além de funcionar como laboratório ou biblioteca de objetos
apoiando as práticas pedagógicas escolares, os museus oferecem, através de
exposições regionais e nacionais que organizam, a oportunidade de celebração da
riqueza da então jovem República Brasileira e a crença em seu desenvolvimento. (KOPTCKE, LOPES, PEREIRA, 2007, p. 7).
De acordo com
os documentos pesquisados, há preocupação educacional e com a divulgação
científica no Museu Nacional nos idos de 1927. “Foi instalada uma sala de
conferências, considerada uma das mais aparelhadas para o ensino da história
natural utilizada principalmente pelas escolas” (p.9). O acolhimento ao público, assim, ganha novo
impulso e registra, em 1932, 2.282 alunos frequentadores da instituição.
As autoras
citam, ainda, o surgimento dos Cursos Públicos “como outra forma de abrir o
museu, de forma organizada, para novos visitantes, estabelecendo uma via
disciplinada de uso” (p.7). Os Cursos Públicos eram gratuitos, palestras
semanais, uma para cada disciplina e realizadas no Museu. “Todavia, aos poucos,
os palestrantes vão abandonando o curso por falta de tempo“ (p.8).
Por fim, as pesquisas
e considerações das autoras evidenciam a relevância das ações desenvolvidas
pelo Museu Nacional na formação da relação escola e museu.
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